O Que O Destino Preparou 01

Informação da História
Ricardo conhece Mariana.
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Parte 2 da série de 3 partes

Atualizada 03/18/2021
Criada 08/20/2007
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Este conto é totalmente produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança entre pessoas, nomes ou situações, só poderia ser uma infeliz coincidência.

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20 de Agosto de 1992. Um Boeing 737-300 da Happy Bird Airlines sobrevoa o Mediterrâneo

***

"Comandante, a cabina está a chamar".

"Ok, responde tu, que estou aqui a ver uma coisa no Jeppesen".

Porra! Estas miúdas têm sempre a arte de chamar quando é menos conveniente. Parece que adivinham. Pensava Ricardo com um sorriso nos lábios. Olhou para a direita e o copiloto olhava-o com um sorriso irónico.

Tinham acabado de sobrevoar Alghero -- Sardenha, e ainda lhes faltava bastante para chegar. Era um charter contratado por um grupo de cientistas de várias nacionalidades, que tinham ido a um congresso em Atenas e agora regressavam a Lisboa. Tinham começado em Oslo às 16:30 e este era o terceiro e último vôo.

"Comandante, há uma passageira que o quer conhecer."

"Deixa-te de merdas, Zeb! Depois de três sectores e às duas da manhã, não estou com pachorra para brincadeiras. E acaba já com esse sorriso perdigueiral!" -- Ricardo era conhecido pelas suas frases jocosas, meio insultuosas e de bom humor. Toda a gente sabia que nunca as dizia com intenção de ofender. Era a sua imagem de marca.

Entretanto a chefe de cabina bateu à porta e Ricardo mandou-a entrar.

"Entra, Silvia"

"Comandante, há uma passageira que o quer conhecer."

"Ou seja, estão os dois combinados para me gozarem. Não apertem comigo que tenho a rosca moída! Já não se pode ser um comandante simpático e tolerante! Tinham que ter conhecido o falecido Queiroz, que foi meu comandante há quinze anos, a ver se tinham lata de vir com gozos a uma hora destas! Bem... com ele, nem de dia!" -- E ria-se debaixo do bigode.

Silvia e Zeb, o copiloto, riam-se imaginando o tal Queiroz, que era uma figura quase lendária, conhecido pelo seu mau génio, com cabelo e bigode estilo Karl Marx. Quando se chateava, o melhor era não estar num raio de vinte metros.

"É verdade! A sério! Ou acha que já não tem atractivo para as mulheres?"

Ricardo apercebeu-se de que era mesmo verdade.

"A isso, não sou a pessoa mais indicada para responder". -- Olhava de soslaio para Silvia, que sorriu, mas não se atreveu a fazer nenhum comentário.

"Bem, só pode ser alguma velha viúva, destas que não conseguem dormir no avião e têm que chatear a tripulação inteira de madrugada. Trá-la, antes de que acorde o resto dos passageiros."

"Efectivamente, comandante... uma velha viúva! Talvez ela o possa esclarecer sobre o seu atractivo." -- Disse-lhe Silvia com um certo tom de ironia. Conheciam-se há anos e eram bons amigos.

Entretanto chegou a passageira. Teria uns vinte e oito anos, loura natural, uns lindos olhos azuis e de corpo estava bastante bem.

"Boa noite minha senhora... Ricardo Velasco. É um prazer recebê-la aqui no cockpit. Apresento-lhe Álvaro Lopes, o nosso copiloto, Zeb para os amigos. Silvia, por favor ajuda esta senhora a sentar-se nojump seat, a colocar os cintos e explica-lhe a operação da máscara de oxigénio. Zeb, acende a luz do tecto, ok?"

"Mariana Vilar, muito gosto, comandante Velasco".

Depois de tudo feito, a passageira continuou...

"Ricardo Velasco... Ricardo Gomes Velasco! É o senhor, não é verdade?"

"Efectivamente! Desculpe... já nos conhecíamos?" Ricardo ficou um pouco preocupado. Como podia não se lembrar de uma mulher como ela? Era realmente bonita! Uma mulher que não se esquece... e o apelido soava-lhe, mas não chegou a nenhuma conclusão.

"Não e sim! Eu conheço-o de nome e de vê-lo em fotografias antigas, mas o senhor não me conhece a mim." -- Ricardo estava cada vez mais intrigado.

"Não entendo. Zeb... avião teu, comunicações tuas, como se eu estivesse incapacitado."

"Avião meu e comunicações minhas,captain!

"Corrija-me se estou equivocada, comandante. Base Aérea Nº 12 - Bissalanca 1972... alferes miliciano piloto Ricardo Velasco, piloto de helicópteros, condecorado com uma Medalha de Serviços Distintos com Palma".

"Ssssim... mas como sabe tudo isso?" Ricardo estava assombrado.

"18 de Outubro de 1972, 10:30 da manhã, 30 km a este de Bafatá. Uma coluna do exército português sofre uma emboscada. Toda a gente morta menos um capitão do exército que está gesticulando ferido, abrigado detrás de uma Chaimite virada. Um helicóptero aparece não se sabe donde, aterra junto ao capitão, o piloto sai com uma metralhadora Kalashnikov AK-47 na mão e mata dois guerrilheiros que estavam perto. Ajuda o capitão ferido a entrar no helicóptero. Entretanto o grupo de guerrilha reorganiza-se e começa a disparar, apesar do fogo de protecção do helicanhão. O helicóptero descola e chega cheio de buracos a Bafatá, mas o capitão salvou-se. O piloto, sofreu um impacto de bala no antebraço direito, sem gravidade. Na parada do 10 de Junho de 1973 em Lisboa, o capitão Armando Vilar, coloca uma Medalha de Serviços Distintos com Palma no peito do herói que o salvou, o Alferes Ricardo Velasco. Um pedido seu, que lhe foi concedido pelo Ministério da Defesa."

"Mas... sssim... mas como... bem, são coisas do passado, de que não gosto de falar... e não sou nenhum herói... desculpe, é jornalista? Desde já lhe digo que não autorizo que se publique nada! Nem dou entrevistas..." Ela interrompeu-o.

"Descanse, comandante. Sou química... e também não gosto de jornalistas."

Zeb estava assombrado! Desconhecia totalmente as façanhas do seu ex-instrutor e comandante preferido. Sabia que ele tinha sido combatente em África e piloto de Alouette III, mas nunca falava da guerra... quando alguém lhe falava disso, mudava de assunto.

"Ouvi essa história centenas de vezes! O capitão a quem salvou a vida era o meu pai! Quando ouvi o seu nome no discurso da hospedeira, decidi que tinha que o conhecer para lhe agradecer pessoalmente... bem, e não posso negar que sempre tive um desejo especial de conhecê-lo. Tinha 8 anos quando isso aconteceu e graças a si, um jovem de 22 anos, não fiquei órfã."

"Bem, já satisfez a sua curiosidade e para mim foi um prazer."

"Sabe...desde os meus 14 anos, tenho sempre uma foto sua na minha mesa de cabeceira. É como um talismã! Sempre que tenho que fazer alguma coisa que exija um pouco de sorte, levo-a comigo. Como tenho medo de voar, aqui a tenho."

Abriu a mala e tirou uma moldura pequena que passou a Ricardo. Zeb olhou e viu o alferes Velasco sentado na cabina do seu Alouette III em voo, de capacete e com um grande sorriso.

"Lembro-me muito bem dessa foto. Ofereci-a ao seu pai no dia 10 de Junho de 73."

"O meu ex-marido detestava-a, mas teve que aguentar. Creio que nunca se convenceu de que esse jovem piloto da moldura era um desconhecido. O meu casamento acabou e a sua foto perdurou. Continuo a tê-la no mesmo sitio. Você não mudou muito, continua a ser um homem muito interessante. Não se importa que a tenha... ou sim?"

"Não... se você se sente protegida com isso e lhe dá sorte, tenho muito gosto em que a conserve. Fico muito sensibilizado... Nem sei que dizer!" -- Ricardo estava visivelmente pouco à vontade. Era uma pessoa modesta e odiava o protagonismo.

Zeb tinha muito senso de humor. Era um jovem de 22 anos, a idade que tinha Ricardo quando salvou a vida ao capitão Vilar. Agarrou num bloco de notas e entregou-o a Ricardo, juntamente com uma esferográfica. Tinha um sorriso de orelha a orelha.

"Comandante! Dá-me um autógrafo? Nunca tinha conhecido um herói!"

"Zeb! Por favor! Deixa-te de idiotices. E dá-me a tua palavra em como não contas nada disto a ninguém! Zeb! Roma Radar acaba de chamar-nos. Presta mais atenção às comunicações e responde-lhes."

"Sorry about that, cap! Roma Radar, Happy Bird 3204, go ahead..."-- Zeb continuou, falando com o controlador romano.

"Mariana... desculpe, posso tratá-la assim?"

"Claro, Ricardo!"

"Mariana, como é possível que você saiba todos esses detalhes? A Kalash AK-47, a data, a Chaimite virada, a distância a Bafatá... Impressionante. Já nem eu me lembrava da metade! Por isso pensei que era jornalista."

"O meu pai escreveu vários artigos para o Jornal do Exército e outras publicações... até morrer, falava do tema constantemente e eu memorizei tudo. Tive que escrever várias cópias à máquina. Sei tudo de memória, vírgula por vírgula, ponto por ponto. Depois, o assunto interessou-me tanto que até fui ao Museu do Militar ver o que era uma Kalash. E actualmente sei muitíssimo de armas militares..."

"O seu pai faleceu? Sinto muito... Quando foi? Pensava pedir-lhe o telefone dele e convida-lo para almoçar um dia destes... tenho tanta pena de ter perdido o contacto com ele!"

"Sim, faleceu há dois anos num acidente de carro."

Ricardo ficou com um semblante muito triste.

"Malditos carros! Também a minha mulher faleceu assim há seis meses."

"Sinto muito, Ricardo!" -- Mariana não pôde deixar de pensar:Mmmm... interessante! Atractivo, valente, maduro... e livre!

"Mariana, vai-me desculpar, mas agora tenho que me concentrar no que estou a fazer, pode continuar aqui ou ir para o seu lugar e se quiser deixo-a assistir à aterragem aí sentada. Como quiser... mas talvez vá mais cómoda atrás e antes de começarmos a descer Silvia volta a trazê-la, para ficar até ao fim, que lhe parece?"

Mariana optou por ir para o seu lugar e voltar antes da aterragem.

"Cap, tenho que contar à Silvia que a passageira já o esclareceu..."

"Que dizes? Mas o que é que me esclareceu?"

"Que é um homem muito interessante."

"Quê? Olha rapaz, se contas uma só palavra do que aqui foi dito, mando-te cortar os berlindes, estamos entendidos?" -- A expressão de Ricardo era séria e a Zeb passou-lhe a vontade de se rir.

Comprometeu-se, sob palavra de honra, a não dizer nada a ninguém. Não entendia esse excesso de modéstia de Ricardo, mas tinha que o respeitar.

Mariana voltou ao cockpit para assistir à aterragem e adorou a experiência.

No fim do vôo, antes de sair trocaram cartões de visita. Mariana convidou-o a telefonar-lhe na próxima sexta-feira à tarde. Ricardo não estava programado para voar e ela não tinha compromissos. Despediram-se com dois beijos.

Quando iam a caminho dos respectivos carros no parking do aeroporto, Zeb disse-lhe:

"Comandante! Não é para lhe dar graxa, mas você tem um par de tomates que nunca imaginei! Não sei porque não gosta de falar disso..."

"Olha, miúdo... matar aqueles dois negros foi necessário, mas não me deu nenhum prazer. Aterrar ali e salvar o capitão, não foi nenhum acto de heroísmo. Foi o que me saiu da cabeça naquele momento. Ter coragem, era deixá-lo ali para morrer. Já vês que não sou nenhum herói. Faltaram-me tomates para ir-me embora. Felizmente correu bem. Tem cuidado, que é tarde e estamos cansados. Não te esmerdes com o carro. Bem... ficaria muito decepcionado, se soubesse que deste com a língua nos dentes a meu respeito."

"Já lhe dei a minha palavra! Daqui não sai nada. Bom fim de semana com a Mariana. Está louca por si! Porra... quem me dera a mim!"

"Uma merda! É uma pobre miúda que me está agradecida e tem uma imagem distorcida de quem sou eu. Vê-me como uma espécie deJohnny Hazard ouMichel Tanguy... Nada mais. Como está equivocada... Sou apenas um mortal como os demais e não consigo esquecer a expressão dos olhos desses dois negros, antes de morrer! Por isso não posso nem recordar-me da guerra e menos falar dela. Às tantas, nem lhe telefono. Tem menos catorze anos que eu."

"Porra! Não lhe faça isso! Pobre moça. Isso sim que seria uma cobardia. Leve-a a almoçar e logo se vê..."

"Tens razão! Ciao!"

continua...

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